segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tambores de axé clamam por justiça social ao negro

                                                                                               

Ceiça Ferreira

O som percussivo dos atabaques, agogôs e xequerês dará ritmo ao canto do povo-de-santo que sairá em procissão com o Afoxé Asè Omo Odé pela Avenida Goiás, nesta terça-feira, dia 13 de maio, data em que se completa 120 anos da abolição da escravatura no Brasil. Uma manifestação contra todas as injustiças que configuram a condição do negro no país.

De acordo com o estudo do Dieese, realizado em novembro de 2007, o percentual de negros que tem acesso ao ensino superior completo é de apenas 3,9%, quase cinco vezes menor que a de não-negros, que é de 18,9%; mais da metade dos negros com nível máximo de escolaridade equivalente a ensino médio incompleto está desempregada;

O estudo revela ainda que os negros trabalham mais, em Recife sua jornada de trabalho é superior em até duas horas em comparação com a de não-negros, apesar disso, ganham muito menos. Em todas as regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Distrito Federal e Porto Alegre), o rendimeto do negro é menor, com destaque para a Região Metropolitana de Salvador, em que negros recebem o equivalente a 52,9% do rendimento dos não-negros, e essa situação se agrava ainda mais quando se analisa o rendimento das mulheres negras, o que revela uma dupla desigualdade, de raça e de gênero.

Dados do Ministério da Saúde também revelam que do nascimento à velhice, a situação da saúde entre os negros é desigual e cruel. O índice de mortalidade infantil é cinco vezes maior entre as crianças negras; as mulheres negras grávidas têm menos acesso aos serviços de saúde pública e na velhice, a exclusão se agrava ainda mais, os negros têm menos cuidados e menos acesso a remédios.

Essa realidade nos mostra a herança perversa deixada pelos mais de três séculos de escravização da população negra. E para reivindicar justiça social, eqüidade e a formulação de políticas públicas para a população negra é que representantes de casas de Candomblé, de Umbanda, da Congada, da Capoeira e do Hip Hop se unem ao Afoxé Asè Omo Odé em procissão no dia 13 de maio, a partir das 16 horas, da Praça do Trabalhador à Praça Cívica.

Essa iniciativa marca o resgate do afoxé que foi criado na década de 90 por Pai João de Abuque, juntamente com outras lideranças das religiões afro-brasileiras da capital. Nos anos de 1990 a 1993, o Afoxé Asè Omo Odé levou para o carnaval de Goiânia toda a beleza da indumentária, o ritmo do ijexá e a musicalidade da religiosidade de matriz africana.

Pai João de Abuque foi o primeiro babalorixá de Goiás. Chegou aqui quando pouco se conhecia de candomblé, enfrentou a perseguição da polícia e o preconceito da sociedade. Fez muitos filhos-de-santo, que hoje são babalorixás e transformou sua casa, o Ilè Ibá Ibo Mim referência do candomblé goiano.

E é também em homenagem a toda história de luta desse grande pai é que seus filhos e netos-de-santo, sob a coordenação de Mestre Luisinho, ogã do Ilè Ibá Ibo Mim organizaram essa reconstituição do Afoxé Asè Omo Odé, uma forma de reverenciar aquele que foi seu mais ilustre babalorixá.







Fotos: Pai João de Abuque e o Afoxé Asè Omo Odé - Carnaval de Goiânia nos anos 90 (Acervo Ilè Ibá Ibo Mim)