quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Nota Pública Afoxé Omo Ode

 





NOTA PÚBLICA

 

    Nós, do Afoxé Omo Odé, viemos a público, por meio desta nota, elucidar o lamentável episódio acontecido do dia 18/02/2023 no Carnaval da Cidade de Goiás. É importante ressaltar que o Afoxé Omo Odé tem uma longa história com Goiás e até o referido episódio sempre fomos bem recebidos pela população vilaboense e temos colaborado de forma pacífica e alegre com o Carnaval da referida cidade.

    O Afoxé Omo Odé foi criado por Pai João de Abuque, pioneiro do candomblé em Goiás, na década de 1990 levando para o Carnaval de Goiânia toda a beleza da indumentária, o ritmo do ijexá e a musicalidade da religiosidade de matriz africana, ou seja, promovendo a memória e a valorização da cultura afro-brasileira no Estado de Goiás.

    Os afoxés abrem as festas de carnaval de vários lugares do Brasil, sendo uma extensão de uma comunidade de candomblé que comunga com os princípios e fundamentos afro-religiosos. Atualmente, o Afoxé Omo Odé está vinculado ao Yle Asé Oju Odé, em Aparecida de Goiânia, dirigido pela Yalorixá Maria do Socorro Alves Rodrigues, conhecida como Mãe Corrinha de Oxum, filha carnal de Pai João de Abuque, junto com Ogã Luis Lopes Machado, Mestre Luizinho, filho carnal de Mestre Bimba, iniciado no candomblé há mais de 30 anos, tendo como cargo de Elemaxó, o cargo mais alto para os cuidados de Oxalá.



A relação do Afoxé Omo Odé com a cidade de Goiás teve início em 2006, quando nosso ancestral Pai João de Abuque foi homenageado no 3º Encontro Afro Goiano. Em 2007, a população vilaboense novamente decidiu homenagear Pai João em um cortejo em sua memória. Portanto, nossa história vem de longe e compreendemos que, na tradição africana, o ancestral tem um papel muito significativo: ele é protetor de um povo, é a força, o axé da família de santo. Mesmo após a morte, essas pessoas continuam próximas de seus filhos. Em cada festa, canto ou oferenda, a memória de entes queridos como Pai João de Abuque é revivida, mantendo assim essa tradição que se baseia na ancestralidade para a transmissão do axé, a chama da vida. 

Foi em retribuição a hospitalidade que nossa querida Vila Boa sempre nos dispensou que desde 2016 temos colaborado com o carnaval da Cidade de Goiás, seja na parceria com o Bloco Pilão de Prata, quanto nas Escolas de Samba da cidade (União e Mocidade), quanto no cortejo do nosso Afoxé, no sentido de fortalecer as manifestações culturais afro-brasileiras. Assim como, já prestigiamos o Afoxé Ayo Delê, sob liderança do babalorixá Robson. 

Nessa trajetória jamais havíamos sido tratados como forasteiros ou baderneiros. Pelo contrário, tivemos nossa trajetória reconhecida por meio da filmagem do Afoxé Omo Odé nas ruas de Goiás, em 2022, quando participamos do lançamento do Museu da Memória de Goyaz (conferir no link abaixo:

https://museudamemoriadegoyaz.net/programacao-de-lancamento-do-museu)

Aprendemos com a sabedoria dos caboclos que “caboclo bom é irmão do outro, um corta pau e o outro arranca o toco”. Assim, Mestre Luzinho aceitou prontamente o convite do auto intitulado mestre Paulo Sérgio para colaborar durante dois anos seguidos no cortejo do Bloco Pilão de Prata, assim como, ministrou oficina de perscurssão para os integrantes do bloco. No entanto, a parceria chegou ao fim em decorrência da fraqueza de caráter de Paulo Sérgio, incapaz de empenhar sua palavra dada e cumprir com os acordos previamente combinados. Problema esse que se repetiu com outros mestres de capoeira e de percussão da cidade de Goiás e de Goiânia. Entendemos que o mesmo não vive em conformidade com aquilo de afirma defender, não valorizando os mestres e mestras da tradição afro-brasileira.

Não somos melhores, mas também não somos piores do que ninguém, a julgar pela forma pejorativa com que a liderança do Bloco Pilão de Prata se referiu ao Afoxé Omo Odé, demonstra um desconhecimento básico dos princípios éticos do universo das comunidades de terreiro e da capoeira angola, estruturado em relação ao princípio da temporalidade, de respeito àqueles que vieram primeiro. Antiguidade é posto, como já dizia nossos mais velhos. Ainda que não seja iniciado nas tradições de matriz africana, Paulo Sérgio parece ignorar o ABC das relações interpessoais dos povos tradicionais. Neste universo afrocentrado, ele, ao invés de procurar trilhar o seu caminho, busca por atalhos em seu processo de se tornar uma referência da cultura negra. Desconhece outro provérbio africano que afirma: “Tempo não gosta daquilo que se faz sem ele”. Em sua luta por protagonismo exclui, ao invés de incluir, desagrega, ao invés de aglutinar, usa da comunidade em benefício pessoal e, pior, desrespeita aqueles que já trilharam o caminho que ele ainda engatinha.

Para explicarmos o que aconteceu no sábado, dia 18 de fevereiro, é importante remontarmos as reuniões que antecederam ao evento do encontro dos tambores, em que ficou acordado com os demais blocos, com exceção do Pilão de prata, que não se fez presente na ocasião, que todos os grupos fariam o seu cortejo e ficariam na Praça do Coreto. Ao final desse momento, todos os blocos fariam uma caminhada até o Mercado Municipal, com o Afoxé Omo Odé puxando o cortejo.

Todos os blocos fizeram o combinado, com exceção do grupo Pilão de Prata que contornou a praça do Coreto e se posicionou na rua Moretti Foggia, em direção à ponte de Cora, de modo a ficar na frente de todos os demais, desrespeitando aquilo que havia sido acordado, além de demonstrar a premeditação da atitude.

Após o final da apresentação dos grupos, nos dirigimos ao local demarcado na reunião, quando fomos interpelados pelo Paulo Sérgio que, de maneira agressiva e destemperada, se dirigiu ao membro do Afoxé Axé Omo Ode que carregava o nosso estandarte, impedindo a nossa passagem. Importante frisar que contávamos com a participação de 10 crianças, inúmeras mulheres. Ao presenciar essa cena, e tentando proteger seus filhos e filhas, sobretudo, as crianças, Pai Luis se dirigiu à Paulo Sérgio, tentando acalmar os ânimos, mas este, com o dedo em riste se recusou a conversar e, com veemência, tocou o peito de Mestre Luizinho, bem como no nosso estandarte, proferindo palavras de baixo calão, já bastante alterado e fazendo ameaças, se recusando a agir em conformidade com o que fora deliberado em reunião em que, não custa repetir, estivera ausente. Sua atitude, de forma nenhuma esteve em sintonia com os bons modos e a boa educação. Ofender um senhor que é referência na cultura afrobrasileira, um dos Ogãs mais antigo de Goiânia, filho carnal de mestre Bimba, iniciado pelas mãos de Pai João de Abuque, em hipótese alguma combina com a ética afrocentrada. 

Ciente do histórico de agressão de Paulo Sergio, Mestre Luizinho, um senhor de 60 anos, diante da atitude do mesmo, como um ato de legítima defesa desferiu uma cabeçada em sua boca. Lamentamos profundamente que o caso tenha tomado essa proporção, mas sabemos que Paulo Sérgio apresenta uma vontade de protagonismo e hegemonia injustificável. Ainda mais para um grupo que afirma pregar a tolerância e a luta antirracista. É lamentável que um territorialismo tacanho seja praticado por quem se coloca como mestre da tradição afro-brasileira. Não fomos os primeiros a provar do veneno de quem usa a cultura negra em benefício próprio e, provavelmente, não seremos os últimos.

Esperamos manter viva a nossa relação com a Cidade de Goiás, relação esta construída com respeito, carinho e alegria. Aproveitamos para agradecer a todas e todos os moradores da Cidade de Goiás, nas pessoas do prefeito Aderson Liberato Gouvêa; do Secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, que interinamente também é Secretário de Cultura, Rodrigo Santana; do presidente da Associação Atlética União

Goiana, Sr. Jorge Luiz; do presidente da Mocidade, Sr. Jurandir, conhecido como Nego Letreiro; bem como nossos irmãos e irmãs que verdadeiramente lutam pela cultura negra e a construção de uma cidade plural e fraterna. Hoje e sempre e que nosso Pai Oxalá abençoe a todos e todas, que Nosso Pai Oxossi traga fartura e abundância a toda a comunidade vilaboense.


Afoxé Omo Odé, Carnaval 2023.




 




Carnaval 2023 - Goiânia e Cidade de Goiás

Encontro de Blocos de rua da Cultura Popular- Goiânia 







Criado na década de 90 por Pai João de Abuque e outras lideranças das religiões afro-brasileiras da capital, o Afoxé Omo Odé levou para o carnaval de Goiânia nos anos de 1990 a 1993, toda a beleza da indumentária, o ritmo do ijexá e a musicalidade da religiosidade de matriz africana.

Desde o ano de 2009 é realizado na cidade de Goiânia o projeto: Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da tradição Afro-brasileira, proposto pela Associação Desportiva e Cultural Mestre Bimba por meio do Afoxé Omo Odé. Este projeto tem se constituído como lugar de encontro para as pessoas que compartilham e admiram o legado e as tradições da cultura afro-brasileira. 

Desde o ano de 2017 é realizado na cidade de Goiás, durante o Carnaval o cortejo do Afoxe Omo Ode, que tem como objetivo difundir e valorizar as tradições de religiosidade de matriz africana presentes no estado de Goiás.                                                        

Atualmente o Afoxé Omo Odé está vinculado ao Yle Asé Oju Odé, dirigido pela Yalorixá Maria Socorro Alves Rodrigues e pelo Ogan Luis Lopes Machado, que juntamente com seus filhos e filhas de axé desenvolvem ações de valorização da cultura afro-brasileira, difusão do Afoxé e de suas manifestações, da musicalidade, da dança, da estética e da religiosidade de matriz africana na cidade de Goiânia, mantendo e preservando a tradição e legado de Pai João de Abuque, pioneiro do candomblé em Goiás.



























Ano 2022- Terreiro Lugar de vida, Resistência, Cultura e Partilha


 


Esse projeto foi apoiado pela Aldir Blanc 2021, edital Formação cultural de crianças, adolescentes e jovens, realizado de forma híbrida por meio de oficinas artísticas-culturais, objetivando promover a valorização, reconhecimento da memória, do patrimônio material , imaterial e das tradições afro-brasileiras. Realizado no Ile Ase Oju Ode em Aparecida de Goiânia com crianças e adolescentes de Comunidades de Terreiro de Religiões de Matriz Africana, seguindo os protocolos de enfrentamento ao Covid-19  conforme o decreto do Município. Após a realização das oficinas presenciais, foi realizada uma Mostra Cultural on-line a fim de expor a produção artística-cultural das crianças e adolescentes e registros das Oficinas, fortalecendo a identidade, a auto-estima das crianças e adolescentes dessas comunidades, possibilitando o reconhecimento e valorização do Terreiro enquanto um espaço de resistência, de combate ao racismo e de promoção do patrimônio material e imaterial das tradições afro-brasileiras.





Programação  das Oficinas



  1. Oficina: África aqui, África acolá (Jogos e brincadeiras de matriz afrobrasileira)


Público: Crianças de 4 a 12 anos

Objetivos: Reconhecer em brincadeiras da cultura popular brasileira, semelhanças e atravessamentos das influências da África em diáspora. Partindo de brincadeiras tradicionais brasileiras, as crianças conhecerão e vivenciarão brincadeiras semelhantes, da cultura de países africanos, bem como conhecerão outras com características diferentes.

Oficineira: Ananda Azevêdo

Carga horária: 2 horas


2. Oficina de Abayomi


Público: crianças e adolescentes de 05 à 18 anos

Objetivos: Apresentar a história da diáspora africana a partir dos processos de resistência em relação à violência colonial, sendo as bonecas abayomi símbolo dessa reelaboração de vida em circunstâncias precárias, contribuindo assim para o fortalecimento da identidade negra de jovens e crianças de terreiro.

Oficineiros: Ananda Azevêdo e Tiago Moita

Carga horária: 2 horas


3.Oficina de Contação de História e produção criativa - Aprendendo com os Itans  dos Orixás


Público: crianças e adolescentes de 04 à 18 anos

Objetivos: Valorizar a identidade de crianças e adolescentes de terreiro, assim como combater o racismo religioso e proporcionar o compartilhamento de vivências culturais em espaços sagrados das religiões de matriz africana por meio de contação de histórias (Itans) sobre a mitologia dos Orixás. Trabalhar a imaginação e a criatividade por meio de pintura, escrita e expressão corporal a partir das histórias contadas. 

Oficineiras: Danielle Machado e Isabel Clímaco

Carga horária: 3 horas


4. Oficina de Culinária: Os alimentos dos Orixás


Público: Crianças e adolescentes de 08 a 18 anos.


Objetivos: Ministrar a oficina trabalhando conteúdo teórico e prática da produção da culinária  típica da cultura africana. O conteúdo trará reflexões sobre as influências da cultura africana no Brasil a partir da gastronomia tradicional de terreiro destacando ingredientes e modo de preparo.

Oficineira: Celma Santana

Carga horária: 2 horas


5.Oficina de Ritmos Afro-brasileiros


Público: Crianças e adolescentes de 06 a 18 anos

Objetivos: Proporcionar o fortalecimento da identidade etnico/racial das crianças e adolescentes de comunidade de terreiro por meio da musicalidade afro-brasileira com instrumentos de percussão como atabaques, xequeres, agogôs, por meio de toques e cantigas ligadas a religiosidade de matriz africana.

Oficineiros: Luis Lopes e Brenda Raissa

Carga horária: 2 horas


6. Oficina de Samba de Roda


Público: Crianças e Adolescentes de 06 à 18 anos

Objetivos: Proporcionar o fortalecimento da identidade etnico-racial de crianças e adolescentes por meio do Samba de Roda, explicar a origem ancestral dessa manifestação afro-brasileira, proporcionar o pertencimento, reconhecimento das origens, reafirmar as raízes dessas crianças e adolescentes por meio da dança, da percussão e do canto do samba de roda. Assim como, enfatizar o protagonismo feminino na cultura de matriz africana. 


Oficineiras: Joyce Jaqueline e Emily Laíssa

Carga horária: 2 horas


7. Oficina  customização com carimbos


Público alvo: crianças e adolescentes de 04 à 18 anos


Objetivos: Valorizar, reciclar e recriar roupas que já temos no armário, através de carimbo manual.Pontuando sobre os impactos que cada peça tem no nosso planeta terra, sendo assim levando os pequenos e grandes a pensarem nessa transformação e valorização de suas peças antigas. Recriando e estimulando o lúdico através de objetos diversos, como; folhas de árvores, flores, bordas de copos, pratos, garfos, frutas, verduras, chaves, legos, prendedor, escova de dente, dentre outros. Incentivar nossos pequenos e grandes a valorizar o que já têm apenas dando vida nova com itens muito acessíveis pra todes. Criar essa conexão pessoal com o estilo de cada um através do que já se tem, apenas ativando o exercício da observação e imaginação ao seu redor. 


Oficineira: Mileide Lopes

Carga horária: 3 horas


8. Oficina de Ojás (turbantes) e moda afro-brasileira


Público: Crianças  e adolescentes de 08 a  18 anos  

Objetivos: Fortalecer a auto-estima e suscitar a formação artístico cultural e a educação para as relações étnicos raciais de crianças e adolescentes de comunidades de terreiro por meio dos Ojás e Moda afro-brasileira ligadas às manifestações tradicionais  de terreiro e festas populares de matrizes africanas.

Oficineira: Erika Santos 

Carga horária: 2 horas





Mostra Cultural Eremi

Público: Aberto à todo público

Objetivos: Sintetizar toda a produção e criação nas oficinas realizadas, a fim de documentar e apresentar amplamente à sociedade. Proporcionar o momento de apresentação das crianças e adolescentes do que foi aprendido ao longo das oficinas. Fomentar a discussão do Terreiro enquanto espaço de construção de saberes, de educação e cultura.

Carga horária: 2 horas

Plataforma: Youtube

https://www.youtube.com/channel/UCG0nwPjO-vkXQs25iKFFsIw