quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Afoxé Asé Omo Odé: a cultura afro-brasileira na rua


Afoxé: a meditação de rua da nossa gente
Gilberto Gil

O Afoxé é um cortejo de rua vinculado a uma casa de Candomblé, religião de matriz africana recriada no Brasil. O primeiro grupo a apresentar publicamente os cortejos do Afoxé no país, tem seu registro datado há mais de um século, na cidade de Salvador-BA. Já no século XX, o Afoxé começa a participar definitivamente do carnaval baiano, trazendo em suas apresentações, elementos relativos aos orixás. A partir daí, outras cidades como Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro, dentre outras, também incorporaram afoxés em suas atividades culturais.


Na cidade de Goiânia essa modalidade cultural aparece recentemente. O Candomblé em Goiás tem sua fundação na década de 1970. Por conseguinte, o Afoxé passa a se mostrar no espaço urbano da capital somente no inicio da década de 1990, idealizado pelo pai-de-santo João de Abuque, pioneiro do Candomblé em Goiânia, juntamente com outras lideranças da cultura afro-brasileira na cidade.




Sua primeira aparição ao público goianiense se deu no ano de 1991, no carnaval realizado pela prefeitura ao lado da rodoviária de Goiânia. Nos dois anos seguintes, no mesmo local e fazendo o mesmo trajeto, o grupo novamente participou dos carnavais.

No ano de 2008, por iniciativa do território-terreiro Ilê Asé Iba Ibomin, o Afoxé, com a direção do ogã Mestre Luizinho, retornou às suas atividades festivas nas ruas de Goiânia, comandando uma caminhada da Praça do Trabalhador até a Praça Cívica, em rememoração ao dia 13 de maio. Essa manifestação contou com a participação de vários grupos culturais afro-brasileiros e do movimento negro. No ano de 2009, o Afoxé Asé Omo Odé apresentou-se no Centro Cultural Martim Cererê no “Tributo a Clara Nunes” e na abertura do desfile das escolas de samba do carnaval goianiense.




Afoxé de Goiânia é regido pelo orixá Oxossi, protetor dos caçadores, das matas e, portanto, do ambiente. Todos os que participam do grupo, independente de fazer ou não parte do Candomblé, recebem a proteção desta e de outras divindades africanas.



O Afoxé Asé Omo Odé é o Candomblé e a cultura afro-brasileira na rua. As ruas no espaço urbano de Goiânia se fazem como palcos da vida, locais aonde esse grupo vai desenhando o negro, o branco e colorido de sua história cultural. A rua é, então assim, para o Afoxé uma extensão do território-terreiro, pois ali no momento do desfile grande parte dos integrantes aproveita para cantar, brincar e dançar em homenagem aos orixás.


José Paulo Teixeira – Geógrafo e Mestre em geografia – LaGENTE/IESA/UFG
Alex Ratts – Antropólogo e geógrafo – LaGENTE/IESA/UFG

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Afoxé Asè Omo Odé no Carnaval de Goiânia



Em continuidade ao trabalho desenvolvido por seu fundador, Pai João de Abuque, o Afoxé Asé Omo Odé  marcou presença na terceira noite do carnaval de rua de Goiânia, realizado no dia 23 de fevereiro, na Avenida Araguaia, ao lado do Parque Mutirama. 

A beleza e pluralidade da cultura e religiosidade afro-brasileira foi apresentada nesse espetáculo de música e dança, que reuniu adeptos de várias casas de Candomblé e Umbanda da capital e também Aparecida de Goiânia.


segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tambores de axé clamam por justiça social ao negro

                                                                                               

Ceiça Ferreira

O som percussivo dos atabaques, agogôs e xequerês dará ritmo ao canto do povo-de-santo que sairá em procissão com o Afoxé Asè Omo Odé pela Avenida Goiás, nesta terça-feira, dia 13 de maio, data em que se completa 120 anos da abolição da escravatura no Brasil. Uma manifestação contra todas as injustiças que configuram a condição do negro no país.

De acordo com o estudo do Dieese, realizado em novembro de 2007, o percentual de negros que tem acesso ao ensino superior completo é de apenas 3,9%, quase cinco vezes menor que a de não-negros, que é de 18,9%; mais da metade dos negros com nível máximo de escolaridade equivalente a ensino médio incompleto está desempregada;

O estudo revela ainda que os negros trabalham mais, em Recife sua jornada de trabalho é superior em até duas horas em comparação com a de não-negros, apesar disso, ganham muito menos. Em todas as regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Distrito Federal e Porto Alegre), o rendimeto do negro é menor, com destaque para a Região Metropolitana de Salvador, em que negros recebem o equivalente a 52,9% do rendimento dos não-negros, e essa situação se agrava ainda mais quando se analisa o rendimento das mulheres negras, o que revela uma dupla desigualdade, de raça e de gênero.

Dados do Ministério da Saúde também revelam que do nascimento à velhice, a situação da saúde entre os negros é desigual e cruel. O índice de mortalidade infantil é cinco vezes maior entre as crianças negras; as mulheres negras grávidas têm menos acesso aos serviços de saúde pública e na velhice, a exclusão se agrava ainda mais, os negros têm menos cuidados e menos acesso a remédios.

Essa realidade nos mostra a herança perversa deixada pelos mais de três séculos de escravização da população negra. E para reivindicar justiça social, eqüidade e a formulação de políticas públicas para a população negra é que representantes de casas de Candomblé, de Umbanda, da Congada, da Capoeira e do Hip Hop se unem ao Afoxé Asè Omo Odé em procissão no dia 13 de maio, a partir das 16 horas, da Praça do Trabalhador à Praça Cívica.

Essa iniciativa marca o resgate do afoxé que foi criado na década de 90 por Pai João de Abuque, juntamente com outras lideranças das religiões afro-brasileiras da capital. Nos anos de 1990 a 1993, o Afoxé Asè Omo Odé levou para o carnaval de Goiânia toda a beleza da indumentária, o ritmo do ijexá e a musicalidade da religiosidade de matriz africana.

Pai João de Abuque foi o primeiro babalorixá de Goiás. Chegou aqui quando pouco se conhecia de candomblé, enfrentou a perseguição da polícia e o preconceito da sociedade. Fez muitos filhos-de-santo, que hoje são babalorixás e transformou sua casa, o Ilè Ibá Ibo Mim referência do candomblé goiano.

E é também em homenagem a toda história de luta desse grande pai é que seus filhos e netos-de-santo, sob a coordenação de Mestre Luisinho, ogã do Ilè Ibá Ibo Mim organizaram essa reconstituição do Afoxé Asè Omo Odé, uma forma de reverenciar aquele que foi seu mais ilustre babalorixá.







Fotos: Pai João de Abuque e o Afoxé Asè Omo Odé - Carnaval de Goiânia nos anos 90 (Acervo Ilè Ibá Ibo Mim)