quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Caminhada em Goiânia celebra a história de três mestres da tradição afro-brasileira





Os anciãos têm lugar de destaque na transmissão dos saberes e são expressões vivas da nossa cultura. As histórias de Pai João de Abuque, Mestre Bimba e Mestre Pastinha demonstram muito bem a força desta tradição ancestral e expressam toda a história de resistência do movimento negro. Em homenagem a vida e ao legado destes três importantes mestres, a Associação Cultural e Desportiva de Capoeira Mestre Bimba, por meio do Afoxé Asé Omo Ode, realiza neste sábado (19/09) uma grande caminhada. Formado por representantes de diversas expressões da cultura afro, casas de Candomblé e Umbanda e grupos de Capoeira, o grupo percorre as principais ruas do Setor Pedro Ludovico a partir das 16 horas. Toda comunidade goiana está convidada para participar desta grande celebração.

A caminhada sairá da Casa de Dona Geraldina (Rua 1014, nº 477) e passará pelas ruas 1021, 2º radial, Avenida circular. Depois, seguirá até a Rua 1059, no Setor Pedro Ludovico. “O evento simboliza o resgate da importância da resistência negra, por meio da história desses três grandes mestres, que continuam vivos na memória, na religiosidade e na cultura afro-brasileira” afirma Mestre Luizinho, filho de Mestre Bimba, ogã do Ilé Ibá Ibo Mim e organizador da caminhada.
 
Mestres da resistência 

Criado por Pai João de Abuque na década de 90, o Afoxé Asè Omo Odé levou para o carnaval de Goiânia nos três anos seguintes, a beleza da indumentária, a diversidade de ritmo e a fascinante musicalidade da cultura afro-brasileira. Uma iniciativa desse homem simples e sempre sorridente, considerado o mais antigo babalorixá de Goiás. Nascido em Juazeiro, na Bahia, chegou em Goiás na década de 60, enfrentou a perseguição da polícia, mas conseguiu abrir sua casa, o Ilé Ibá Ibo Min. Ao falecer em setembro de 2006, Pai João de Abuque tornou-se o primeiro ancestral do candomblé goiano.
Mestre Bimba
O atual reconhecimento da capoeira como patrimônio cultural imaterial deve muito a Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como Mestre Bimba. Negro, alto, mandingueiro, Bimba enfrentou nos anos 30 a perseguição e o preconceito contra a capoeira, transformando-a em uma arte educativa: tornou a movimentação da capoeira mais ofensiva, recriou golpes, puxou o toque para frente. Segundo o comunicólogo e também seu aluno, Muniz Sodré, Mestre Bimba fez “uma reinterpretação marcial do jogo, buscando sua legalização na sociedade baiana”, por isso é considerado o grande criador da capoeira regional.

Mestre Pastinha
Outro importante mestre é Joaquim Ferreira Pastinha, ou simplesmente Mestre Pastinha. Sábio e estrategista, ele soube aliar a necessidade de reconhecimento da capoeira como uma prática cultural e os valores da tradição africana, para construir uma nova consciência, baseada no lúdico, na teatralidade, no companheirismo e no respeito ao ser humano.

 “Eles possuem a sabedoria daqueles que são capazes de criar a partir da necessidade, da carência - seja de recursos ou de conhecimentos. Reinventaram sentidos e significados que os ajudaram a lidar com a realidade em que viveram. Por isso, a vida desses três homens demonstra a força dos mestres na tradição afro-brasileira”, acrescenta Mestre Luizinho.

A Associação 

Criada em 1999, por Luís Lopes Machado, filho caçula de Mestre Bimba, a Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Mestre Bimba  tem com objetivo preservar o legado de seu pai. E assim, atua no ensino e apresentações de Capoeira Regional em escolas de Goiânia e cidades do interior; produção de espetáculos, atividades culturais e religiosas afro-brasileiras, como o afoxé, o samba-de-roda, o maculelê e a puxada-de-rede.

Para a realização desta Caminhada, a Associação tem como parceiros a Belcar Caminhões e Secretaria de Estado de Políticas Públicas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), Assessoria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Goiânia e OlhO Comunicação Estratégica.

Afoxés 

Mais conhecidos como “candomblé de rua”, os afoxés reúnem no carnaval adeptos da tradição dos orixás, que ao som percussivo dos instrumentos de origem africana, como atabaques, agogôs e xequerês apresentam cantos, danças, cores, ritmos e alegorias dessa religião. No dia 13 de maio de 2008, filhos e netos-de-santo de Pai João de Abuque organizaram a reconstituição do Afoxé Asè Omo Odé em um cortejo pela Avenida Goiás, que reuniu representantes de várias casas de culto afro e grupos de capoeira em uma manifestação de protesto contra a condição da população afrodescendente no país, mesmo após 120 anos de abolição da escravatura. Desde então, sob a coordenação de Mestre Luizinho, o Afoxé tem divulgado em eventos, como o carnaval de Goiânia em 2009, os ritmos e movimentos dessa religiosidade de matriz africana. 

Caminhada em homenagem aos mestres da tradição afro-brasileira
Data:
19 de setembro
Horário:
16 horas
Percurso:
Saída da Casa de Dona Geraldina, na rua 1014, n.477 (próximo à Praça de Esportes) até o Ilé Ibá Ibo Mim, na rua 1059, no Setor Pedro Ludovico.
Mais Informações:
Ceiça Ferreira (62) 8191-2122 / Janaína Gomes (62) 8419-2739


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