sexta-feira, 15 de agosto de 2014

2014: o sexto ano de uma Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira


Por Ana Clara Gomes

Já são cinco anos de valorização da herança do povo negro e da cultura afro-brasileira por meio de uma iniciativa que mobiliza, desde 2009, vários grupos ligados à cultura afro-goiana na busca por reavivar a história, a luta e a resistência da tradição ancestral no estado de Goiás. As cinco edições da Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira consolidam-se como um ambiente de difusão, estímulo e preservação da identidade coletiva negra goiana. O evento homenageia grandes nomes da cultura afro-brasileira que habitam nossa memória coletiva e fazem parte da história da cidade de Goiânia e do estado de Goiás e, ainda, se apresenta como palco de um encontro de pessoas que compartilham um mesmo legado cultural. 

Proposta pela Associação Desportiva e Cultural Mestre Bimba, Afoxé Asè Omo Odé e Ilê Ibá Ibomim (Casa de Pai João de Abuque), as cinco edições da Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira tiveram parcerias com pontos de cultura, grupos de capoeira angola e regional, grupos musicais e teatrais, além de organizações do movimento negro de Goiânia e Goiás. A iniciativa foi pensada depois da morte de Pai João de Abuque, o pioneiro do candomblé em Goiás, que, em setembro de 2006, fez a passagem e se tornou o primeiro ancestral do candomblé goiano. A caminhada, em todas as edições, celebra a herança deixada por ele aos seus filhos, filhos de santo, netos, bisnetos de santo e à comunidade em geral do Setor Pedro Ludovico. 

Desde a primeira edição, firmou-se a tríade que é homenageada todo ano no evento. Pai João de Abuque, como o primeiro ancestral do candomblé goiano, Mestre Bimba, como ícone do reconhecimento da capoeira regional, e Mestre Pastinha, considerado o guardião da capoeira angola, formam o trio de mestres griôs que são referendados todo ano. Em cada Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira, um tema é estabelecido e, a partir dele, são definidos os homenageados e homenageadas que formam a chama viva de cada edição do evento e que farão coro junto aos nomes dos mestres citados.

As últimas edições

4ª Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira

Para a 4ª Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira, realizada em 2012, foi escolhido o tema “Culturas negras, culturas viajantes”. A temática foi baseada nas trajetórias, fluxos e destinos de pessoas e suas expressões culturais, que migram de lugares a lugares, consolidando tradições, identidades e patrimônios culturais. A escolha do tema das culturas viajantes, que resistem e se recriam em um novo ambiente, revelou três grandes nomes para as homenagens da quarta edição. Seu Jesus da Conceição, conhecido carinhosamente como Padim Jesus, passou por várias cidades até chegar a Goiânia, onde se tornou ilustre personalidade da Umbanda no estado. Ele e sua esposa Dona Maria de Lourdes da Conceição, também homenageada, são zeladores do Templo de Oração de Maria. Para completar o trio, Laurindo Dário dos Santos, mais conhecido como Mestre Onça Negra, nasceu em Salvador e, na caminhada, levou a capoeira regional de Mestre Bimba, que o fez tricampeão brasileiro na categoria peso pesado. Grande referência da capoeira em Goiás, Mestre Onça Negra foi, por 19 anos, aluno de Mestre Bimba e, hoje, perpetua o seu legado.

5ª Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira

A quinta edição do evento, realizada em 2013, teve como tema os “Caminhos ancestrais, origens, raízes”. A temática comprometeu-se em lembrar as trajetórias dos mestres e mestras que firmaram suas origens e raízes em novos lugares, de forma a seguir a indicação de um caminho ancestral. Quatro referências da cultura afro-brasileira foram homenageadas. Luzia Pereira Rodrigues, conhecida como Vó Luzia, veio do estado de Pernambuco e, junto com o marido Pai João de Abuque e a filha Maria do Socorro, chegaram a Goiânia e construíram a primeira casa de santo do estado. Milton de Sousa, o Mestre Passu Preto, nasceu e se criou na capital e, desde que teve contato com a capoeira e com os ensinamentos de Mestre Osvaldo e Mestre Bimba, dedica sua vida à rigorosa formação de novos capoeiristas. Zita Ferreira foi homenageada como grande educadora e pesquisadora de ritmos e movimentos afro-brasileiros. Professora universitária, dançarina e militante do movimento negro, ela trabalha a dança na perspectiva de transformações e ações sociais. Tereza Cleidecer Dias, conhecida como Tereza de Omolu, é um exemplo vivo de uma reviravolta na saúde mental e física, depois de receber cuidados espirituais na casa de Pai João de Abuque. Hoje ela é zeladora do Ilê Asé Onilewa Azanadô.



A sexta edição

E, vem novidade pra esse ano de 2014. A 6ª Caminhada em Homenagem aos Mestres e Mestras da Tradição Afro-brasileira vai acontecer no dia 13 de setembro, no Jardim Botânico, no Setor Pedro Ludovico. Em breve, mais informações.